09 outubro 2017

Há 50 anos

Nove balas na Bolívia
disparadas a partir de Langley





(...)
 Sin embargo, los ojos incerrables del Che
miran como si no pudieran no mirar,
asombrados tal vez de que el mundo no entienda
que treinta anos después siga bregando
dulce y tenaz por la dicha del hombre.
Mário Benedetti (1997)

08 outubro 2017

A Jeanne Monet faz de cangalheira

Olhe que não, olhe  que não !


Para falar francamente, a minha idade e a minha situação de reformado deviam-me dar o direito de não ter de perder mais tempo do que já longamente perdi na vida com as opiniões de Teresa de Sousa. Entretanto, decido ficar a meio caminho. Ou seja, apenas anoto de passagem duas ou três coisas e depois vou apenas a uma questão que está no título no seu artigo. Assim :

Infelizmente Teresa de Sousa não nos conta quantas vezes já na vida sentenciou que o «o PCP não têm futuro» nem quantas vezes o futuro não lhe deu razão. Também não nos  conta se nas anteriores grandes quebras autárquicas do PCP e das suas coligações também lhe deu para formular tão funesta sentença.


Como ela sentencia agora assim por causa do resultado da CDU nas eleições autárquicas, é por demais evidente que ela não leu, e se lesse não era capaz de entender, o que escrevi aqui nos pontos 2 e 3., ou seja, sobretudo que, não sendo possível prever agora o resultado das legislativas de 2019, já é um abuso e um disparate garantir uma quebra da CDU quando agora em autárquicas teve mas 42 mil votos que em 4 de Outubro de 2015.
É preciso estar a leste de tudo para que, aliás misturando realidades muito diferentes,  Teresa de Sousa possa vir sentenciar em 2017 que os comunistas portugueses «Já perderam a oportunidade de se “reformar”, como aconteceu há décadas na Itália, na Espanha ou França».
Mas o ponto que verdadeiramente me interessa é o que está no subtítulo e no final do artigo segundo os quais o «PCP andou 40 anos a fazer do PS o «inimigo principal »". Com efeito, é esse que me interessa porque é esse que me permite não ser previsível e oferecer uma surpresa aos leitores.


E isto porque Teresa de Sousa nisso tem toda a razão. Se não vejamos;

- após a queda do 1º governo de Mário Soares, houve negociações PS-PCP para viabilizar um novo governo mas o PCP roeu a corda indo formar Governo com o CDS;

- mais tarde em 1983, após a derrota da AD, de novo o PCP considerou o PS o seu «inimigo principal» e foi formar o chamado governo do bloco central com o PSD;

- especial gravidade assumiu também o comportamento do PCP ao recusar os votos comunistas a Mário Soares e a Jorge Sampaio para derrotarem Freitas Amaral em 1986 e Cavaco Silva em 1995;

- também em autárquicas se manifestou o ódio anti-PS do PCP, pois em Dezembro de 1985, sendo já Cavaco Silva líder do PSD, não hesitou em fazer no sul do país 45 coligações com o PSD para destronar outras tantas gestões do PS.


E ponto final parágrafo porque o stock de cera para ruins defuntos está a acabar.





Páginas de história

O movimento operário
nos cartazes eleitorais suíços



 1955
 2003
ver mais aqui

07 outubro 2017

Porque hoje é sábado ( )

Terence Blanchard


A sugestão musical deste sábado incide sobre
o trompetista norte-americano Terence Blanchard.



e quem quiser mais ...

70 anos de militãncia no PCP

Centenário de Óscar Lopes,
uma grande figura da cultura, da democracia e do progresso social

 


ver aqui dossiê da
DORP do PCP

04 outubro 2017

Despretensiosamente

Quatro apontamentos contra
interpretações erróneas


Compartilhando naturalmente do desgosto, perplexidade e sentimento de injustiça que ainda marcarão o estado de espírito de muitos comunistas e apoiantes da CDU;
Tendo em boa conta a análise já feita aqui;
Não considerando dispensável um exame crítico e autocrítico mais calmo e demorado dos factores nacionais e dos factores locais (e do seu complexo entrelaçamento) que terão estado na origem do insatisfatório resultado nacional da CDU (que já teve antecedentes históricos  a que se seguiram posteriores recuperações e progressões) ;
Não pretendendo proceder a nenhuma avaliação global mas apenas contrariar de forma serena mas frontal algumas interpretações que considero profundamente erróneas e que têm tido larga circulação na comunicação social e nas redes sociais;
Atrevo-me a quatro modestos apontamentos que, a meu discutível ver, não podem estar ausentes de qualquer reflexão serena sobre os resultados da CDU no passado dia 1. A saber :

Começa por haver um aspecto crucial que não deve ser esquecido: é que em eleições autárquicas uma coisa são posições alcançadas ou conquistadas e outra é a influência eleitoral medida em votos e % nessas eleições. E sobretudo é necessário recordar que, por exemplo e por absurdo, o PCP até podia ser um grande partido com 20% uniformemente do Minho aos Açores e, apesar disso, não teria nenhuma Câmara. Câmaras podem perder-se, como agora me parece ter acontecido, por uma erosão geral da influência eleitoral autárquica, mas também podem perder-se por mudanças na arrumação dos resultados de outras forças. Aliás, no passado, a CDU chegou a perder Câmaras tendo aumentado a votação.

Depois igualmente não deve ser esquecido que o PCP e as coligações em que participou, em caso absolutamente singular no panorama partidário nacional,  sempre detiveram, desde 1976, um significativo número de Câmaras, por um lado, devido às suas assimetrias de influência eleitoral mas sobretudo porque nessas eleições tinham um assinalável diferencial positivo de votos e % por comparação com o seu resultado em legislativas (em regra, entre 2 a 3 pontos). Ou seja, como pelos resultados de legislativas o PCP conquistaria uma, duas ou três Câmaras consoante as épocas, isso quer dizer que o número de Câmaras normalmente obtidas, incluindo agora , se deve    a que algumas dezenas de milhares de eleitores que nas legislativas votavam noutros partidos já nas autárquicas votavam CDU.
Ora, tirando casos particulares e excepções que sempre existem,  o que ontem aconteceu foi uma importante erosão desse diferencial positivo que o PCP e a CDU tinham em autárquicas por comparação  com legislativas que passou de cerca de 110 mil votos em 2013  para cerca de 43 mil votos agora. Mas este mesmo facto basta só por si para demonstrar como é pérfida a previsão que alguns fazem de que, na sequência deste seu resultado no passado domingo, o PCP caminhe para um mau resultado nas legislativas de 2019. É que, neste 1 de Outubro, o PCP teve mais 43 mil votos do que nas legislativas de 2015. Por causa das moscas (isto é, de confusões expressas no Facebook), por favor não se tresleia o que acabo de escrever : é que não estou a invocar um dado positivo para atenuar a gravidade do resultado da CDU, estou sim a demonstrar a falta de fundamento dos que, pelo resultado da CDU em 1 de Outubro, logo concluem por uma inevitável quebra em próximas legislativas. A isto pode acrescer o facto de nas eleições para as Assembleia Municipais - ou seja, o órgão mais imune a critérios de personalização e de chamado «voto útil», a CDU embora tendo perdido muitíssimos votos ter obtido ccerca de 520 mil votos (10,4%), ou seja mais 30 mil que para as CM.

Embora não tenha meios  de o provar (os votos não trazem foto nem biografia eleitoral), a minha inclinação é que essa erosão e, por outro lado, a grande vitória do PS se devem a factores políticos de ordem nacional, isto é, aquilo a que se poderia chamar uma «onda rosa»  de âmbito não tanto autárquico mas  sobretudo nacional sustentada até parcialmente em medidas positivas para os quais o PCP contribuiu mas que o PS capitalizou de forma mais forte. Dito de outra forma e para que não sobrem dúvidas, ao contrário do que comentadores de direita procurarão instilar, não creio mesmo nada que a quebra da CDU se fique a dever a qualquer desilusão no eleitorado mais estável do PCP com os resultados do envolvimento do PCP na solução política em vigor.
     ***
Dito isto, que, repito mil vezes, não pretende ser uma avaliação global nem uma desvalorização de outros ângulos de análise, parece-me uma evidência que é depois de momentos de sombra ou mais baços que se torna mais imperativa a audácia de melhorar, resistir, lutar e construir, sempre movidos pelas nossas mais justas e inabaláveis convicções.