30 setembro 2015

Não há mesmo pachorra !

Quando uma crónica de 1997
responde a parvoíces actuais

Pululam como cogumelos nos media dezenas e dezenas de apreciações sobranceiras ou chocarreiras sobre a campanha eleitoral em curso, as mais das vezes ancoradas nos frames e extractos que os próprios media seleccionam, ninguém se dando ao trabalho de ir, por exemplo, ler alguns dos discursos integrais de Jerónimo de Sousa que estão disponíveis em www.cdu.pt.

Para dar só um exemplo, hoje no Público, Nuno Ribeiro sentencia que "
Já lá vão os tempos em que os partidos procuravam no medo cénico de uma manifestação ruidosa ou na rendição de uma casa cheia a imagem de pujança que as eleições não confirmavam. Como se os eleitores se tivessem esfumado à boca das urnas. Aprenderam esta lição. Em Setembro de 2015, longe das didácticas sessões de esclarecimento de outrora, os comícios são repastos. Ou os almoços e jantares são acompanhados pelos discursos. Como aperitivo ou à digestão. E a tradicional carne assada foi substituída pelo portuguesíssimo arroz de pato." E, lampeiro, remata a terminar que « O sucesso de uma iniciativa partidária pode deixar de medir-se pela afluência e considerar o tamanho das febras, ou fêveras na versão nortenha. São, assim, os novos comícios.»

Tudo visto, eu podia arrumar esta crónica de Nuno Ribeiro na galeria das parvoíces, salientando apenas que estou farto de ver nas televisões reais comícios sem fêbras ou arroz de pato. Mas como o assunto merece mais, aqui ressuscito uma crónica minha que, embora sendo sobre as autárquicas de 1997, me parece manter roda a actualidade.

Mata e esfola

Servindo como exemplos de toda uma vaga de comentários e opiniões, na passada segunda-feira, os editoriais do «Público» e do «DN» juntaram-se os dois à esquina, não a tocar a concertina, mas a arrasar a campanha autárquica.
Dentro da sequência mata e esfola, um sentenciava que «o espectáculo dado por candidatos, governantes e dirigentes da oposição nesta campanha eleitoral é pobre de ideias, rico de insultos e branqueador sobre o papel do poder local». E outro falava de «uma classe política que, neste ambiente pré-eleitoral, tem dado de si uma assustadora imagem de mediocridade» e opinava que «o grau de reflexão entre os partidos(...) sobre a forma como se vive nas áreas metropolitanas, nas cidades e vilas deste país, é um zero absoluto».

Para além do velho truque das generalizações abusivas e do premeditado assassinato das diferenças, o que mais impressiona neste tipo de comentários são os três equívocos básicos que os sustentam e explicam.
Na verdade, como bem se calcula, os autores destes juízos tão severos e definitivos apenas sabem da campanha o que lêem nos jornais, ouvem nas rádios e vêem nas televisões.
Mas, primeiro equívoco, não têm a humildade de admitir e assumir que os «media» estão muito longe de ser um espelho da realidade e que, por isso, quando emitem as suas sentenças globais sobre a campanha, em rigor o que estão a comentar são tão só os aspectos da campanha e o escasso número de protagonistas eleitorais que os «media» decidiram seleccionar ou privilegiar.

O segundo equívoco decorre naturalmente do primeiro e corresponde a exilar e segregar do balanço global da campanha a acção generosa e civicamente relevante de milhares de candidatos que, longe dos holofotes das televisões e do interesse dos outros «media», estão prestando contas do trabalho desenvolvido, debatendo os reais problemas das populações e apresentando propostas fundamentadas e em muitos casos inovadoras para a gestão autárquica.
Finalmente, o terceiro equívoco é o de, nestes termos, não quererem perceber que o que também devia entrar nestes balanços globais da campanha, não era apenas o que for da estrita responsabilidade de «candidatos, governantes e dirigentes da oposição» (mas quais?) mas também o que é insofismável responsabilidade de meios de comunicação social que, em regra, acham que uma bofetada, dois incidentes, três insultos, quatro «frases assassinas» e cinco tiradas demagógicas interessam incomparavelmente mais do que quaisquer propostas programáticas e quaisquer reflexões sérias sobre os reais problemas das populações.

Entendamo-nos: não se trata de negar, proteger ou absolver aspectos de degradação da vida política que somos os primeiros a combater e de que somos os primeiros a querer marcar uma distância e uma diferença que a generalidade dos «media» não quer ver mas que os eleitores podem e devem premiar.
Face a algum atrevimento e arrogância circulantes, do que se trata é de lembrar que boa parte dessa degradação não teria um curso tão grande se os critérios dominantes nos «media» a não tivesse erigido como a verdadeira e a única «política» que interessa ao público. — Vítor Dias

«Avante!» Nº 1254 - 11.Dezembro.97 

Um exemplo histórico do combate do PS contra a direita


Especialmente dedicado aos exaltados campeões do alegado «voto útil» no
PS e 
aos que, sem vergonha, acusam
CDU de estar a ajudar a direita

(há muitos e muitos anos, um amigo e camarada de Coimbra criou uma frase que se mantém actual : «Alegre aparece sempre nas eleições para ser a luva esquerda que vem tapar a política de direita do PS»)


É que sou suficientemente antigo para me lembrar disto: em 15 de Dezembro de  1985, já Cavaco Silva era Primeiro-Ministro do PSD depois de ter mandado às urtigas o «bloco central» com o PS, realizaram-se eleições autárquicas.
Apesar do que está atrás, o PS acordou com o PSD uma coligação formal contra a gestão da APU em cerca de 42 munícipios. Aconteceu porém que os sócios cometeram uma irregularidade legal e processual  e,  por isso, tiveram de recorrer ao truque de, para as Câmaras, concorrer o PS com elementos do PSD disfarçados de independentes, e para as Assembleias Municipais concorrer o PSD integrando nas listas elementos do PS disfarçados de independentes. A verdade é esta,  mesmo que os dados da CNE não possam naturalmente ter registado este truque.

Mas os dados da CNE sobre os resultados nesses concelhos, e para as CM e AM, mostram bem que onde, para as CM, concorreu o PS, não  há PSD. E onde para as AM, concorreu o PSD, não há lista do PSD.

Um exemplo, entre tantos outros:



E, para  completar esta história de que o PS nunca se envergonhou, só falta dizer que a APU obteve 20,2% a nível nacional e conservou quase todas as Câmaras ameaçadas pela coligação disfarçada do PS com o PSD.

Reavivar a memória: uma tarefa essencial (8)



aqui
em 16 de Agosto de 2012

e agora revejam o homem
que falou dos «piegas»

(aos o.45 m)

Mais glórias do jornalismo português

Como elas se fazem 




O título é este mas o que a jornalista Maria Lopes escreve na peça é o seguinte: « A tal ponto que, a meio do caminho, questionado pelos jornalistas sobre se chamaria o PS para governar consigo se a CDU tivesse maioria, Jerónimo de Sousa não hesitou. “Nós, se tivéssemos uma maioria, mesmo que fosse absoluta, nunca governaríamos sozinhos. Consideraríamos sempre a convergência de democratas e patriotas, incluindo num Governo.”

Conclusão: Jerónimo de Sousa não sonhou com nenhuma maioria absoluta da CDU, limitou-se a responder a hipótese colocada por jornalistas de a CDU ter uma maioria absoluta.

29 setembro 2015

Isabel Moreira ou...

E assim fala a
«ala esquerda» do PS




O que parece estar muito difícil é obter um argumentozinho racional e razoável sobre isto que estou farto de publicar:


Apanhado no blogue Manifesto74

Esta é de facto muito boa !


Quem, dementadamente, publica um gráfico assim merece bem ser gozado com as referências à sondagem dos 111,9% (que é a soma de todas as parcelas inscritas no quadro).

Mas eu acrescento mais duas coisas:

- a primeira é que não se pode juntar no mesmo quadro os «indecisos» e as intenções de votos expressas, porque isto é meter os «indecisos» duas vezes - uma como tal e outra porque eles já foram distribuídos pelas intenções de voto constantes do gráfico; isso pode fazer-se sim mas só quando se está a publicar os chamados resultados brutos, isto é, antes de qualquer distribuição de indecisos;

- a segunda é que não se publica um quadro em que a soma das intenções de voto atribuídas dá 90,5% (sem se explicar se isto quer dizer que há 9,5% de votos brancos ou nulos).

Mas eu já disse aqui que vale tudo !

Por detrás das palavras, toda uma concepção

Os sonhos molhados de
Carlos César (Presidente do PS)


 (ouvir aos 2.2o m)

Tanto neste entrevista de rua como num comício ontem à noite nos Açores, Carlos César, Presidente do PS, afirmou que «votar no Bloco de Esquerda na CDU é o voto mais útil para a direita, a  seguir ao voto na própria coligação».

Para além de sublinhar, como repetidamente tenho feito, a falsidade política e numérica desta teoria de conveniência,acho que é tempo de desvendar que, por detrás destas palavas, o que está é o desejo de uma democracia amputada em que na AR só houvesse dois partidos -PS e PSD (ou talvez três, por favor ao CDS que pode ser sempre uma muleta não despicienda para o PS).

Conheça a coligação da «sensibilidade social»





DN de hoje

28 setembro 2015

Só coincidência, pois claro

Finalmente !

Perguntei ontem 



e leio hoje



Uma tarefa essencial : reavivar a memória (8)


ou de como o PS votou contra no Código
de Trabalho de Bagão Félix, depois
 aprovou no seu governo outro
ainda pior e, por fim, se absteve (violentamente, claro) noutro
do PSD-CDS !
(atenção às datas e clicar para aumentar)







27 setembro 2015

Faltava cá este!

Quando o PS dos
negócios entra na campanha




«Ou seja, o voto em formações como a CDU ou o BE poderão contribuir para que a direita ganhe. "Todos os portugueses que querem mudança têm de concentrar o seu voto no PS"» (António Vitorino aqui)

Face a isto, eu continuarei a repetir até às 24 hs. de dia 2 e de certeza que, como até aqui, ninguém dará o passo de me rebater:





Para o seu domingo, a jazzista romena

Ana-Cristina Leonte





Recordando o inesquecível

Novecento de 
Bernardo Bertolluci



filme agora reexibido na Argentina na sua
 versão integral de 5 horas



Ai de quem se deixar influenciar !

O que é demais já chateia !




A RTP e a Católica diziam aqui em 19/9: «O interesse deste tipo de sondagem (tracking poll) reside na observação das tendências de subida e descida de cada partido, mais do que a medição da percentagem de intenções de voto de cada um


Por outro lado, no inicio das diversas tracking polls todas as empresas explicaram  que diariamente saía da amostra um terço antigo de inquiridos e entrava um terço novo. É, ALIÁS, A DEFINIÇÃO QUE VEM NA WIKIPEDIA: «tracking poll is a poll repeated at intervals generally averaged over a trailing window.For example, a weekl tracking poll uses the data from the past week and   discard older data
Ora, para não despejar aqui toda a repulsa que esta história das tracking polls me causa como abastardamento da democracia, eu apenas pergunto ; porque é que a ficha técnica da «tracking poll» da RTP/Católica já não nos conta essa saída de amostra e entrada de outra e nos vêm dizer que obtiveram 936 inquéritos válidos ?
»

P.S.: E, já agora, perante tudo isto, porque é que a ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social), a quem compete fiscalizar as sondagens publicadas, está caladinha que nem um rato ?

26 setembro 2015

Porque hoje é sábado ( )

Fernanda Cunha



A sugestão musical deste sábado  traz-vos
 a voz da cantora brasileira de jazz
 Fernanda Cunha.




Bofetada de luva branca ou ...

... palavras que
fazem a diferença




Não estou nada esquecido de muitas coisas detestáveis que Joaquim Vieira tem escrito mas não me importa de registar este seu sobressalto de bom-senso.

«(...) E perpetuar o statu quo significa dar predominância aos dois partidos que têm assegurado a alternância:entrão). PSD e PS (o centrão ). A prova é que as televisões (e de certo modo também as rádios) entenderam, do alto da sua potestade, que apenas os líderes desses partidos tinham direito a  debate em canais generalistas, os únicos a que toda a população tem acesso, ficando o resto, a existir, para o cabo, visto sobretudo pela classe média, mas só entre partidos com assento na legislatura cessante, sem inclusão sequer daqueles que as sondagens - tão acarinhadas pelos media - anunciam que entram no próximo parlamento.
Dizem que o critério é «jornalístico», porque só um daqueles líderes pode vir a chefiar o governo.Ora isso é uma perversão do acto eleitoral e da própria democracia. Do acto eleitoral porque as eleições não são para primeiro-ministro, mas sim para deputados. Da democracia, porque se deve considerar que, em qualquer eleição democrática,, à partida está tudo em aberto. A prova ? O actual primeiro-ministro dinamarquês não é o líder de um dos dois partidos mais votados nas eleições de Junho, mas sim do que ficou em terceiro lugar. Pelo critério dos media portugueses, ele não teria participado em nenhum debate pré-eleitoral para toda a audiência».

Joaquim Vieira é jornalista
e Presidente do Observatório da Imprensa

Mais depressa se apanha...

É só estatística ou contabilidade, diziam eles

na 1ª página do DN de hoje

25 setembro 2015

Sondagens

Nisto eu não ponho as mãos no lume
por ninguém mas, já agora, esta foi
baseada em 1542 entrevistas validadas



 Expresso-Eurosondagem hoje


UMA TAREFA ESSENCIAL: REAVIVAR A MEMÓRIA ! (8)


Público de hoje (pág.  12)

Por uma vez, tenham a coragem de responder


Duas perguntas decisivas aos
mandantes e executantes
das 
tracking polls






No dia 4 à noite, logo saberemos ou se as chamadas tracking polls foram ou não a maior operação de ilegítima pressão sobre os eleitores desde 1975.

Sobre a sua, diz a TVI :


«Este estudo da Intercampus para a TVI e TSF é baseado, desde ontem, em pouco mais de mil entrevistas. Ao longo da campanha, a essa amostra de mil inquiridos, dia a dia, são retiradas as 250 entrevistas mais antigas, e acrescentadas outras 250, mantendo a amostra no milhar de indivíduos».

Sobre a sua, diz o Público:


«Até dia 29 de Setembro, o PÚBLICO divulgará diariamente um inquérito para perceber a evolução das intenções de voto dos portugueses. Em cada dia haverá 250 novas entrevistas telefónicas, que substituirão as 250 mais antigas

Aqui chegados, só quero deixar duas perguntas :


acham realmente as empresas que executam estas tracking polls que 300 ou 250 pessoas são amostra séria e credível para apurar, dia a dia e  a nível nacional, a evolução das tendências do eleitorado ?

porque é que, em vez de, em cada dia, mudarem um terço da amostra não fazem antes uma sondagem com mil inquiridos de três em três dias ?

23 setembro 2015

Nem mais




Não estou sozinho

Estrela Serrano
no «vai e vem» ...


«Convém contudo não menosprezar o  valor facial das sondagens, em particular das tracking-polls. É que, o importante não é, como dizem os responsáveis, ver a evolução das intenções de voto, embora elas possam fornecer esse elemento. O importante é a influência que exercem sobre as percepções dos cidadãos, cujo interesse se resume a saber quem vai à frente e quem vai atrás.
Se conjugarmos esta  “corrida de cavalos” diária com uma cobertura jornalística baseada em arruadas e comícios, feita de picardias, ataques e demagogia temos uma campanha muito pouco esclarecedora.
As tracking-polls favorecem a manipulação fácil dos eleitores porque, em geral, estes  não se interessam por conhecer a amostra ou outros detalhes técnicos e não compreendem situações como a que se verificou na primeira tracking-poll da TVI, em que cerca de 7 pontos de diferença entre a coligação e o PS foi depois explicada pelo responsável da própria sondagem como um “empate técnico”, num debate sobre sondagens noutro canal (a RTP Informação).
As televisões e os jornais que encomendam essas sondagens e por elas pagam elevado preço estão interessados em rentabilizá-las e por isso as exploram empolando os seus resultados. Não estão interessados em sublinhar as limitações dos números que vão obtendo. Sacrificam o rigor da informação favorecendo a rentabilização do investimento que fizeram.
Não deixa, porém, de ser chocante perceber que em algumas dessas tracking-polls a amostra é muito limitada porque aumentá-la teria custos muito elevados. Isto é, manipula-se a opinião pública com sondagens cuja fiabilidade é próxima do zero.

... e Pedro Magalhães aqui


«E em Portugal? Aqui, à parte os inquéritos académicos ou o Eurobarómetro, sem dúvida relevantes mas realizados muito espaçadamente, as sondagens encomendadas e divulgadas pelos meios de comunicação social sofrem de uma quase permanente monomania em torno de intenções de voto e popularidade de líderes político-partidários. É certo que há, ocasionalmente, excepções. Como aqui ou aqui, onde se colocaram questões sobre grandes opções de política fiscal. Ou aqui, aferindo-se desejáveis prioridades de actuação de um novo governo e decompondo as respostas por grupos de inquiridos. Contudo, este esforço é episódico, impedindo a detecção de mudanças ou continuidades ao longo do tempo. Está frequentemente colado, na maneira como as questões são colocadas, a notícias concretas e irrepetíveis (“A Ministra das Finanças afirma que temos os cofres cheios, concorda?”), não apontando para a detecção de preferências e atitudes relevantes ou estáveis. As variáveis que permitiriam desagregar as respostas por grupos, definidos por características sócio-demográficas ou políticas, estão muitas vezes ausentes dos questionários. E mesmo quando existem, essa decomposição é, na maior parte das vezes, ignorada pelos próprios órgãos de comunicação social que encomendaram a sondagem, seja porque preferem retratar um agregado cuja “opinião” é na verdade inexistente (“os portugueses”) ou porque não têm jornalistas capazes de decifrar as implicações desse tipo de análise. E em geral, as potencialidades do online no arquivamento e visualização do histórico destes resultados e da sua análise mais fina, exemplificadas aqui ou aqui, são quase completamente ignoradas.

Porquê? A resposta mais fácil e óbvia, e não por isso menos verdadeira, tem a ver com recursos. Mercados pequenos e órgãos de comunicação social em crise geram, inevitavelmente, sondagens baratas e concentradas na supostamente fundamental “corrida de cavalos”. Serão, logo, muito menos completas e interessantes – para já não dizer menos metodologicamente robustas – do que aquelas que os responsáveis técnicos dos centros poderiam fazer com outras condições. Redacções emagrecidas, com jornalistas assoberbados de trabalho e incapazes de se especializarem, resultam num tratamento superficial dos resultados, numa baixíssima utilização das possibilidades fabulosas que hoje existem de tratamento e apresentação dos dados e numa reduzida exigência em relação às empresas. Por outro lado, não temos um equivalente ao Centro de Investigaciones Sociológicas espanhol nem ao Pew Center americano, alternativas, respectivamente, estatal e non-profit aos media privados na encomenda de estudos de opinião. E poderíamos continuar por aqui.

Contudo, suspeito que os problemas de recursos se foram transformando num problema mais geral de mentalidade, que torna as coisas piores do que teriam de ser. As sondagens e os seus resultados são, na comunicação social portuguesa, quase exclusivamente tratados como meros geradores de itens noticiosos entre muitos outros. Essas “notícias” são por vezes inexistentes do ponto de vista factual (“subiu 0,3%”), mas isso não impede que criem “eventos políticos” que podem ser “analisados” nos painéis nocturnos dos canais de notícias 24 horas, para serem depois esquecidos passados dois ou três dias. Alimentados nesta dieta noticiosa em que as sondagens são utilizadas meramente como parte de uma horse race coverage, somos todos condicionados a colocar sempre o mesmo tipo de perguntas sobre as sondagens. Porque estão uns partidos ou candidatos à frente numas e outros noutras? A quem beneficiam estes resultados? Se beneficiam, foram manipuladas para esse fim? Acertaram? Se não “acertaram”, quem as manipulou para não acertarem? E por aí fora. Nem todas estas dúvidas são idiotas. Algumas são relevantes, apesar de serem colocadas quase sempre com intuitos políticos mais ou menos evidentes. E são todas filhas deste ambiente geral e, por isso mesmo, perfeitamente compreensíveis.

Contudo, devíamos também ser capazes de colocar outra pergunta. Apesar dos poucos recursos, terão mesmo de ser tão superficiais e desinteressantes as sondagens que se fazem em Portugal e, logo, tão superficial e desinteressante a cobertura que geram? Lidar com este problema é do interesse de todos. Se as sondagens servirem apenas para analisar a “corrida de cavalos”, o discurso estritamente politizado sobre elas acabará, mais tarde ou mais cedo, por se tornar absolutamente hegemónico: está demasiado em jogo. Mas se isso acontecer, aqueles que fazem as sondagens e aqueles que as analisam acabarão por ser vistos como parte desse jogo e, logo, descredibilizados como fontes de informação relevante.

É isto que importaria impedir. A “corrida de cavalos” fará sempre parte do interesse e do “picante” das sondagens, não tenhamos ilusões. Mas nas sondagens que já se fazem em Portugal, há muitos outros dados e factos sobre o eleitorado e a opinião pública que não são suficientemente valorizados por quem as encomenda e, assim, permanecem ocultos para todos. Não sendo susceptíveis de serem usados para ganho político imediato, são apesar disso muito relevantes. E como espero ter mostrado com os exemplos anteriores, há muitas coisas que não são perguntadas e analisadas que o poderiam ser, sem grandes custos acrescidos. Bastaria um pouco de imaginação, atenção e saber. Teríamos assim uma visão mais profunda do que pensam e querem os eleitores portugueses, daquilo que os une e os divide, e porquê. E uma visão mais profunda do que são as sondagens e para que servem. Se as sondagens podem fazer qualquer coisa de positivo pela democracia, será mais por aqui do que pela obsessão exclusiva com as intenções de voto ou com os termómetros de popularidade.»

22 setembro 2015

Aqui é que bate o ponto !

Passos Coelho,
António Costa e a Grécia


As recentes eleições na Grécia, propiciam que aborde aqui um tema que não tenho visto analisar ou salientar.

Com efeito, sobretudo na pré-campanha e sobretudo em debates, tanto Passos Coelho como António Costa têm usado a experiência recente da Grécia e a  derrota humilhante (digo eu) do seu Governo como argumento (falacioso, digo eu) para demonstrar a inviabilidade de uma  política alternativa à executada ou defendida pelo PSD-CDS ou pelo PS e até agora brutalmente imposta pela UE. E têm-no feito com uma relativa impunidade a que é urgente pôr termo.

O que mais me deixa absolutamente indignado é que tanto Passos Coelho e António Costa falam sempre sobre isto como alguém que assistiu na bancada ao conflito Grécia-Eurogrupo e depois se limitam a constatar e interpretar o seu desfecho final  como conveniência eleitoral interna.

E ambos, mas mais Costa, nunca efectuam uma apreciação clara sobre o comportamente autoritário do Eurogrupo face à Grécia (sendo que Passos até se dá ao desplante de dizer que o governo do Syrisa acabou por apanhar com «austeridade em dobro»).

A verdade  que importa lembrar e divulgar é que, cada um à sua maneira, nem Passos nem Costa foram espectadores de bancada do referido conflito e embate.

Porque Passos Coelho é primeiro ministro de Portugal e tem assento no Eurogrupo e portanto, com a sua família política europeia, sancionou e apoiou todo o rol de chocantes e terríveis imposições e diktats feitos à Grécia.

Porque António Costa e o PS, além de nunca terem tido uma palavra  de crítica sobre a orientação do Eurogrupo face à Grécia, pertencem à mesma família política europeia que esteve em cheio nas brutais imposições feitas à Grécia por via de personagens como os seus camaradas Hollande, Sigmar Gabriel (coligado com Merkel), Matteo Renzi, Schulz e aquele Presidente do Eurogrupo de nome impronunciável.

Um módico de decência mandaria pois que Passos Coelho e António Costa, em vez de usarem o desfecho daquele processo como «vacina» contra uma real mudança de política em Portugal, deviam era assumir as suas responsabilidades na forma como a Grécia foi indecentemente tratada e nos sofrimentos dramáticos que vão continuar a ser impostos ao seu povo. Não o fazendo, está tudo dito sobre o que são capazes em Portugal.

Mesmo depois que a voz já me doa

Uma tracking pollque começou assim...



«A projeção das intenções de voto, distribuindo um número relativamente elevado de indecisos (18,5%), foi realizada com base na "média do comportamento eleitoral dos portugueses" em eleições passadas  [!!!]. É essa projeção que revela a coligação PSD/CDS com 40,1% das intenções de voto, 3 pontos percentuais à frente do PS, que convence 37,1% dos 753 inquiridos. A CDU surge como a terceira força política neste estudo, com 6,3% das preferências, o Bloco de Esquerda recolhe 4% das intenções de voto, e os outros partidos 3,5%. Neste estudo da Intercampus, para TVI, Público e TSF, 9% dos inquiridos confessaram que vão votar branco ou nulo.»
... só podia continuar assim !
Público de hoje
saiba o que é uma
tracking poll aqui


P.S. 1: É certo que os promotores desta e de outras «tracking polls» e um ou outro comentador, para se protegerem, se fartam de dizer que, neste tipo de sondagens, o que conta não são tanto os resultados mas visualização das tendências ao longo dos dias. Mas todos eles sabem tão bem como eu que o que fica é o impacto dos títulos sobre os resultados e não as suas notas de rodapé !
P.S.2:  Esta tracking poll apesar de em conjunto só ter um pouco mais  de 700 pessoas como, não só acompanha outras, no cálculo de percentagens obtidas a nível distrital como o faz em relação aos escalões etários. Ora o que escrevi aqui sobre esta «técnica» de apuramento de percentagens e deputados eleitos a nível distrital, também se aplica justamente aos escalões etários porque os resultados sobre cada escalão assentam em amostras muito reduzidas.