29 março 2015

Compre hoje o «Público» porque ele merece

Uma reportagem para
ler com emoção e guardar


Reportagem de Mariana Correia Pinto
(texto) e Manuel Roberto (fotos) aqui

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Não era raro que alguns mineiros se automutilassem: “Mesmo em prejuízo do dinheiro, que lhes fazia muita falta, pegavam num machado ou noutro objecto e cortavam-se nos pés, nos tornozelos ou nos pulsos para terem direito a uma semana de descanso”, conta em voz revoltada Serafim Gesta Mazola. Repouso só concedido em situações limite como esta. Ou quando o médico, por indicação da Companhia das Minas, dispensava os trabalhadores que apresentavam “sinais de silicose”. “Mandava os homens embora sem qualquer justificação, sem lhes dizer que estavam doentes, para evitar pagar indemnizações. Era cúmplice da empresa. O mais trágico é que, muitas vezes, essas pessoas estavam tuberculosas e, como não sabiam, acabavam por contaminar toda a família”, denuncia o investigador.

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José Carlos Almeida foi durante alguns anos responsável da organização central do PCP no distrito do Porto e acompanhou de perto as lutas desta freguesia: “Os mineiros de São Pedro da Cova foram, a par dos pescadores, a classe de profissionais do Norte com um papel mais destacado nas lutas operárias.” Ainda que fossem muitas vezes motivadas por questões económicas, como sucede na greve de 46, as batalhas dos mineiros tinham “consciência política associada”, considera. “As pessoas mais activas não eram espontâneas, estavam organizadas partidariamente. O PCP tinha uma célula em São Pedro da Cova.” José Carlos Almeida não se recorda de muitos nomes — “a maioria usava pseudónimos” —, mas não esquece os bastidores da organização. “Reuníamo-nos muitas vezes com o organismo local num tasco em frente ao sanatório, à beira da estrada. A gente fazia a redacção de um texto apontando uma orientação, imprimia num copiógrafo e assinava ‘a organização local do partido’. Para os mineiros, era uma coisa muito importante.”

1 comentário:

  1. Um texto fundamental e digno de "Jornalista". Uma dura realidade, de injustiça e exploração que espreita de novo. Não tão suja, não tão às claras, mas igualmente asqueroso e abjeto. Seres humanos tratados como bestas, nunca mais!
    Obrigado Mariana Correia Pinto

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