15 dezembro 2013

Conversa entre gente antiga ou 40 anos depois

Pacheco Pereira e o
3º Congresso da Oposição Democrática





Em artigo no Público de passado sábado, intitulado «Nos 40 anos do 3º Congresso da Oposição Democrática», José Pacheco Pereira retoma naturalmente  algumas das ideias principais que expôs numa iniciativa (*) evocativa realizada em Aveiro no dia 4  deste mês e que, por falta de tempo, então não pude comentar devidamente.

1.
A parte mais importante do artigo de Pacheco Pereira, e a que mais me interessa comentar e clarificar,  evidencia-se nestas duas seguintes citações a que procedo, sem qualquer embaraço ou temor :

 (...)
2. Ora, a meu ver, todas estas considerações de Pacheco Pereira laboram num enorme sofisma e num monumental equívoco. Na verdade, e sem me ocupar agora da hipervalorização que Pacheco Pereira sempre faz do papel e peso dos grupos esquerdistas, creio que ele se esquece nomeadamente:

- de que eu próprio na minha intervenção naquela iniciativa salientei que, por comparação com os dois Congressos Republicanos anteriores, o 3º Congresso da Oposição Democrática era o que tinha sido uma emanação mais directa das estruturas da oposição democrática, então agregadas nas CDEs distritais e dispondo de uma coordenação através de periódicos Encontros Nacionais;

- de que nem na época nem depois jamais ouvi alguém dizer que o 3º Congresso da Oposição Democrática, em termos de objectivos, preparação e organização, embora sendo democraticamente aberto a quem nele quisesse participar e debater, tinha a pretensão de representar todos os sectores, grupos ou correntes antifascistas e, por maioria de razão, os grupos esquerdistas que caluniavam e combatiam politicamente a oposição democrática;

- que, neste sentido, e como Pacheco Pereira devia saber, «Oposição Democrática»(também muitas vezes genericamente referida como «o movimento democrático»), naquele contexto, não era tanto uma designação destinada a definir uma atitude de cidadãos face ao regime fascista mas mas sim uma designação explicitamente associada a a determinadas formas orgânicas de acção legal ou semilegal, à época, como já disse, protagonizadas pelas CDEs (e em que, naturalmente, a composição da Comissão Nacional do 3º C.O.D. e a composição das comissões coordenadoras das diversas secções do Congresso disso derivavam);

3. Em síntese, José Pacheco Pereira  vem criticar o 3º C.O.D. por não ter sido o que ele e os grupos esquerdistas desejariam que tivesse sido: ou seja, uma espécie de RGA - Reunião Geral (ad hoc) de Antifascistas - ou AGAF - Assembleia Geral  dos Antifascistas Portugueses . Mas o que Pacheco Pereira não conta, e sabe-o tão bem como eu - é que mesmo que o 3º Congresso tivesse funcionado nesses moldes, os grupos esquerdistas teriam tido talvez mais margem para perturbar ou mesmo provocar (para isso agindo organizadamente, como Pacheco Pereira confessa no artigo) mas nem uma das suas teses ou orientações fundamentais obteria um apoio maioritário nos participantes no Congresso.

4. O artigo de Pacheco Pereira termina com uma referência a que « O outro pólo de conflito no congresso traduziu a mesma vontade de controlo político do PCP e ocorreu com a tese de Medeiros Ferreira sobre o papel das forças armadas, apontando quer os riscos de um golpe de direita, quer as possibilidades de um derrube do regime pelos militares, assente na trilogia do “descolonizar, democratizar e desenvolver”. Num certo sentido, essa foi a tese mais premonitória do congresso, violentamente atacada pelos sectores do PCP. Assisti a essa sessão e recordo-me de ver uma jovem mulher, claramente comunista, a vociferar contra os militares que ela, que vivia na Amadora, dizia conhecer muito bem na sua violência pró-regime.»
Mas sobre este tema ou questão, depois de anotar a facilidade com que Pacheco Pereira transforma o que terá dito «uma jovem mulher, claramente comunista» num violento ataque dos «sectores do PCP», basta-me remeter os leitores interessados para o longo post que escrevi aqui sobre a comunicação de Medeiros Ferreira e que, até hoje, não teve a honra de receber qualquer comentário crítico.


(*) Promovida pelo Movimento Não Apaguem a Memória (NAM) ; Centro de Documentação 25 de Abril; Centro de Estudos de História Contemporânea do ISCTE;Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra;Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra;Departamen to de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro:Instituto de História Contemporânea da FCSH da Universidade Nova de Lisboa; Seara Nova.

2 comentários:

  1. Não percebo muito bem as exigências que Pacheco Pereira faz, fez, fazia para depois cair na Social Democracia "à portuguesa", isto é, cair nas malhas do PPD e do CDS que de Social Democracia não têm nada.
    Mas agora até dá gosto vê-lo a descascar no Governo só é pena escrever muito porque desaparece a vontade de o ler na totalidade de tão monótono que se torna.
    J. Monteiro

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  2. Gosto muito de ler este blog porque é altamente esclarecedor ao desmontar todas as confusões dos pretensos e bem falantes revolucionários que se consideram no caminho certo, ignorando e agredindo a luta diária de quem é coerente, estudioso e com uma visão
    bem assente na realidade.

    Um beijo.

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