09 novembro 2013

O jornalismo e...

... a pulsão para sempre
«apimentar» os textos sobre
Álvaro Cunhal e o PCP



No DN de hoje, uma longa e densa peça do jornalista João Céu e Silva intitulada «A Segunda Vida de Cunhal » arranca assim (sublinhados meus e intercalações minhas): «Entre o emaranhado [ ?, era um prédio habitação adaptado para sede] de gabinetes que existem nos diversos andares da sede do Partido Comunista Português em Lisboa havia um que noutros tempos era muito reservado, o de Álvaro Cunhal. Situava-se no sexto andar do edifício da Rua Soeiro Pereira Gomes, quase num vão de escada, sem paredes [J.C.S devia querer dizer «sem divisões interiores»],rodeado de estantes repletas de pastas, livros em russo, [juro que a imensa maioria deles seriam noutras línguas a começar pela portuguesa], fotografias da filha e dos netos, um peluche e um pirilampo mágico, dois discos compactos de Chopin,  e uma secretária muito arrumada e sem nada para prender o olho... É essa a memória que tenho do vislumbre de poucos minutos permitido ao gabinete do então secretário-geral do PCP em 1991, para efeito de uma reportagem  sobre as sedes dos principais partidos. O «santuário», entretanto desmantelado, era onde o dirigente trabalhava. Inacessível a olhos extra-partido e que só muito excepcionalmente foi permitido observar e fotografar. Cunhal não estava presente.»

Ora acontece que fui eu que tratei com João Céu e Silva dessa visita, que a preparei e que acompanhei o jornalista no seu percurso pela Soeiro Pereira Gomes. E, nessa qualidade, o que eu posso testemunhar é que:

- o gabinete de Álvaro Cunhal no 6º andar da SPG era tão «reservado» com os outros dez que lá existiam e existem, incluindo aquele que ocupei durante quase 14 anos e que as regras de acesso interno a esse gabinete eram exactamente as mesmas dos outros gabinetes;

- que não tenho ideia nenhuma de João Céu e Silva ter pedido mais minutos para mirar o gabinete de Álvaro Cunhal, o que aliás se compreende porque o objectivo da visita era ter uma visão geral de diversos gabinetes ou áreas de trabalho e não propriamente bisbilhotar em estantes ou secretárias.

Mais esclareço que esta tendência para «apimentar» textos sobre o PCP e até sobre a sua sede já vem de muito longe. Lembro-me por exemplo de, com a contribuição importante de Maria João Avillez, muitos jornalistas terem passado a chamar ao rés-de-chão da SPG de «bunker» só porque as salas destinadas a receber os jornalistas estavam em grande parte tapadas para o exterior pelo mural que enriquece a fachada da sede do PCP. E, face a esta caracterização de «bunker», eu muitos vezes perguntei a jornalistas se eles me eram capazes de dizer qual era o partido que recebia jornalistas ou tinha encontros na sua sede, vendo-se tudo do passeio da rua, qual montra de pastelaria. Perguntar perguntei, resposta é que nunca tive.

Moral desta história: há quem conte as coisas assim e até invente «santuários» (mesmo com aspas no original) e depois os comunistas é que alimentam o «mito».

7 comentários:

  1. mais melhor é que desmantelaram o santuário. bando de incréus.

    ResponderEliminar
  2. Tudo serve aos cães de guarda...até a mentira. No fundo, é preciso agradar ao dono e manter o emprego...

    ResponderEliminar
  3. céu e silva até tem feito trabalhos correctos sobre o pcp. chamar-lhe cão de guarda que agrada aos donos...

    ResponderEliminar
  4. Não devia precisar de repeti-lo mas aqui fica: este blog adoptou desde o 1º dia um estilo liberal de moderação de comentários: como se compreenderá só sou responsável pelo que escrevo e pela forma como escrevo. Acho bem que outros leitores se demarquem de outros comentários que lhes parecem excessivos ou impróprios.

    ResponderEliminar
  5. A triste verdade… é que está cada vez mais difícil vender papel… :-) :-)

    Abraço.

    ResponderEliminar
  6. e para vender papel vale tudo...mesmo inventar

    ResponderEliminar