17 julho 2013

A propósito de uma crónica de Rui Tavares

Cinco sóbrios esclarecimentos 
 


Esclarecendo que, ao contrário do que ele pensará, não há da minha parte nenhuma embirração mas apenas a consequência natural de ele escrever na última página do Público, registo que na sua crónica de hoje, explicitamente motivada pela iniciativa do BE de propor encontros ao PS e PCP para a elaboração de um «programa para um governo de esquerda» ( a mim pareceu-me uma coisa quase tão instantânea como o pudim flan), Rui Tavares reporta-se na sua crónica de hoje a uma sua anterior crónica de Setembro de 2012 em que havia recomendado aos partidos da oposição, entre outras medidas, a de  concordarem «em  encontrar-se e falar, sem precondições».

Rui Tavares assinala depois (sublinhados meu) que «Ontem, aconteceu. Pela primeira vez, ouvi um líder de um partido da oposição - João Semedo, do Bloco de Esquerda apelar à realização de reuniões urgentes e «sem condições prévias» entre os partidos de esquerda.  Poucas horas depois, o PS aceitou».  E mais à frente, Rui Tavares sublinha que «o ineditismo do passo pode fazer escola, e isso é importante. Ainda assim a pergunta que se impõe é a seguinte: custava muito ?.

Ora, face  a isto, entendo observar sobriamente:

1. O «ineditismo» da coisa é tão grande que, para não ir mais atrás, ainda ontem aqui lembrei que que em 5 e 6 de Junho, ou seja há 40 dias, o PS teve encontros com todos os partidos, incluindo com o PCP e com o BE.

2. Não só desconheço em quase 40 anos de democracia que o termo «condições prévias» alguma vez tenha entrado no léxico de partidos a respeito de encontros entre si, como juro, com especial conhecimento de causa, que ele      é completamente estranho às formulações do PCP. E, como Rui Tavares é muito novo para o saber, até informo que, nos longuíssimos anos em que o PS esteve de relações cortadas com o PCP, este com Álvaro Cunhal como Secretário-geral insistia sempre sem êxito  (até à chegada de Jorge Sampaio à liderança do PS) na realização de encontros com o PS sem agenda nem condições prévias.

3. Embora saiba que isso não abala um milímetro as sentenças de alguns, insisto em que o «diálogo» entre os partidos não é coisa que se possa limitar aos seus encontros (que até podem ser meras coreografias ou operações de imagem),  antes também se trava na AR e na praça pública pela exposição e confronto das suas diferentes propostas e pela forma como cada um se posiciona  ou vota as propostas de outros.

4. Lamento dizê-lo mas confundir a legítima consideração de um partido que, numa determinada situação ou conjuntura, um encontro com outro não é oportuno ou não acrescenta nada com o estabelecimento de  condições prévias ou precondições é, na mais benévola das hipóteses,  o puro território da ligeireza e da superficialidade.

5. Por fim, de forma propositadamente elíptica, quero lembrar que em 12 de Setembro de 2012 escrevi isto neste blogue :



P.S.: É sempre uma coisa tristíssima e quase de fazer chorar as pedras da calçada ver Daniel Oliveira a dar corda à milonga  de que há alguém que empurra o PS para os braços da direita como se mais de três décadas não mostrassem que sempre para lá caminhou pelo seu próprio pé e consciente vontade.

4 comentários:

  1. Nesta linha, é com muito prazer e algum orgulho que me confesso um "empecilho sectário"...

    ResponderEliminar
  2. Sempre caminhou e vai caminhar ,basta lembrar Mário Soares e a sua arrogância em relação ao PCP

    ResponderEliminar
  3. Toda esta encenação do "cozinhado" da "salvação nacional" pelos partidos que cozinharam o "enterro nacional" nos últimos 38 anos, condimentado com os comentários dos que alimentaram e se alimentaram com comentários que vão repetindo como se toda esta estória estivesse sempre a recomeçar, toda esta encenação - dizia eu - poderia parecer gozo se não soubéssemos os milhares de milhões de euros que este gozo tem custado ao povo.
    Quase sem se dar por ele, e só recentemente, ficamos a saber dos milhares de milhões já pagos por "renegociações" de swap e PPP, da nova novela do Banif e da ressurreição do BPN, por exemplo.
    Mas a grande questão da "salvação nacional" está no tal acordo sobre o corte dos 4.700 milhões já e nos tais 14.000 milhões anuais que deveremos pagar nos próximos 30 anos ( no pós-troika que tanto preocupa Cavaco Silva), para provar que somos bons alunos e gente séria.
    Pudesse todo este filme ser transparente e bem explicado e a salvação nacional seria outra e bem mais rápida.

    ResponderEliminar
  4. O que está por trás desta agitação toda é encontrar um lugar ao sol no próximo governo de "Mais Destruição Nacional", pois se parte de idênticas premissas.
    Precisamos de alternativas e não alternância.

    Um beijo.

    ResponderEliminar