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09 maio 2012

Varrendo a testada !





(estas duas últimas imagens - títulos do Público de hoje- foram
 aqui 
colocadas já depois da publicação deste post)



Eu e outros já escrevemos ene vezes sobre o assunto mas, como era de esperar, isso não passa de uma gota de água contra um oceano de má-fé, mentira e hipocrisia. Agora as coisas estão bastantes piores porque  se desenha toda uma onda europeia no sentido de, sem pôr em causa as políticas de austeridade e de ajuste de contas com os direitos dos trabalhadores, reclamar ao mesmo tempo orientações favoráveis ao crescimento económico e ao emprego que são  sobretudo do terreno das «words, words, words».
Não é preciso ser economista para escrever que se trata de um clamoroso sofisma e de uma ostensiva habilidade semântica ou discursiva e de uma gritante fraude intelectual e política. E não é preciso ser economista porque basta lembrar o que há tempos diziam, alto e bom som ou em baixo registo, economistas de praticamente todos os quadrantes.



Por isso, aqui volto a recordar que, aquando da celebração do acordo com a troika, não vi um único economista, nem mesmo de direita, a contestar os efeitos recessivos e criadores de  maior desemprego daquele memorando austeritário nem me lembro que, então, algum se lembrasse de fazer a impossível conjugação simultânea de austeridade e crescimento económico e emprego. Também não vi nenhum economista, mesmo de direita,  a ter a coragem de negar que as orientações e disposições do novo Tratado orçamental vinham na linha directa das políticas consagradas no memorando. E, por fim, ainda sou tempo em que praticamente todos os economistas reconheciam que abaixo de um crescimento de 3% era praticamente impossível reduzir o desemprego.
Acresce que, no caso português,esta fraude em curso é ainda mais mentirosa e escandalosa. Com efeito, sabe-se que só um número relativamente pequeno de grandes empresas detêm a cota de 50% das exportações e que  dezenas e dezenas de milhar de pequenas e médias empresas produzem para o mercado interno, garantindo aliás cerca de 90% do emprego privado. Assim até  um quase leigo percebe que a quebra do poder de compra da população, o aumentos dos factores de produção (aumento do IVA, energia, etc), o aumento dos impostos, o ataque aos salários e o corte dos subsídios de férias e de Natal só podiam trazer, como estão trazendo, quebras das receitas fiscais e da segurança social (enquanto esta vê as suas despesas subirem exponencialmente com o nível do desemprego), aumento do desemprego, contracção do mercado interno e recessão económica.

E, sendo esta uma realidade que se mete pelos olhos adentro,  para compôr o ramalhete, que decidiram fazer em Portugal e na Europa, os defensores, apoiantes e cúmplices desta política ? Exactamente o que agora estão fazendo em coro : muito palavreado sobre a necessidade de prestar atenção ao crescimento económico e ao emprego, como se não soubessem que tudo o que antes aprovaram era precisamente contra tudo aquilo que agora reclamam ou imploram.


O chamado «acto adicional» ao Tratado Orçamental defendido pelo PS português e por outros Partidos Socialista da Europa é  mais claro exemplo de um exercício de puro recorte teatral onde falta um pingo de seriedade, de coerência e de verdade. Desde logo, porque o Tratado Orçamental já foi aprovado em Portugal com o voto do PS  e está em tramitação em muitos outros países da UE enquanto o tal «acto adicional» ainda precisaria  de obter a concordância de numerosos Estados europeus. Depois porque os dois documentos são de diferente natureza e eficácia pois enquanto o tratado orçamental, além da vergonhosa expropriação de soberanias nacionais, está cheio de medidas imperativas e de rápida e rígida aplicação enquanto o «acto adicional» dificilmente poderá passar de um catálogo de bonitas palavras e belas intenções.


É que, servindo-nos do exemplo do memorando com a troika ou do acordo governo-UGT- patronato, parece haver legiões de jornalistas, comentadores e políticos que não percebm uma coisa muito simples: é que a anulação de subsídios, o aumento de impostos, gravosas alterações laborais etc, são coisas que se decretam, entram em vigor sem mais condicionantes, «ses» ou «talvez; mas já vistosas promessas de crescimento e de emprego podem até constar de documentos oficiais mas não se decretam nem entram em vigor imediatamente, estando sempre suspensas por uma enorme variedade de «ses».

Tudo visto, à esquerda do PS todos não somos demais para varrer a testada a todos os fizeram, fazem e querem continuar a fazer o mal e querem que nos esqueçamos disto com a caramunha desenvolvimentista que agora todos os dias debitam.

19 junho 2015

Varrendo a testada

É uma vergonha e uma
indecência falsificar e deturpar 
as posições dos outros



na capa do i

30 outubro 2015

Varrendo a testada

Será que preferem
«os amanhãs que zurram» ?


Só dificuldades técnicas me impedem de responder a milionésima repetição desta piada ou remoque republicando apenas uma crónica que publiquei no Avante! em 1990 um pouco antes do XIII Congresso (Extraordinário) do PCP e que, significativamente, se intitulava «Os amanhãs que já cá cantam !»

Na falta disso (que bastava) fiquem então estas breves observações:

1. A expressão foi criada pelo dirigente comunista francês e grande resistente antifascista Paul Vaillant-Couturier no seu poema «Jeunesse» e viria a ser repetida pelo deputado comunista Gabriel Peri fuzilado pelos nazis em 1941, no Mont-Valérien, nestes termos da sua última carta:

« Que mes amis sachent que je suis resté fidèle à l'idéal de ma vie ; que mes compatriotes sachent que je vais mourir pour que vive la France. Je fais une dernière fois mon examen de conscience. [...] J'irais dans la même voie si j'avais à recommencer ma vie. Je crois toujours en cette nuit que mon cher Paul Vaillant-Couturier avait raison de dire que le communisme est la jeunesse du monde et qu'il prépare des "lendemains qui chantent". Je vais préparer tout-à-l'heure des lendemains qui chantent. »

2. A expressão fez o seu  honroso curso e desempenhou o seu papel mas a verdade é que há mais de 55 anos que não é usada pelos comunistas embora reapareça constantemente na voz e na escrita de variados anticomunistas que nunca por nunca ser nos explicam se acaso preferem (como a sua prática política induz) os «amanhãs que choram» ou os «amanhãs que zurram»

14 agosto 2019

Varrendo a testada

Ana Sá Lopes deve saber
ler mas não entende o que lê

Em editorial no Público de hoje, Ana Sá Lopes, insistindo (como é seu direito)  num apoio total e sem nenhumas reservas à actual greve dos motoristas de matérias perigosas, proclama a dado passo que   « o Partido Comunista Português aceita as greves desde que sejam dos seus sindicatos e quanto aos outros grevistas acusa-os – sim, aos grevistas – de serem responsáveis pelo Governo limitar o direito à greve

Trata-se, nem mais nem menos de uma mentira e de uma deliberada falsificação. Para além de que o PCP não tem sindicatos, o que o PCP afirmou foi que «É neste contexto que é convocada uma greve por tempo indeterminado e com uma argumentação que, instrumentalizando reais problemas e descontentamento dos motoristas, é impulsionada por exercícios de protagonismo e por obscuros objectivos políticos e procura atingir mais a população que o patronato. Uma acção cujos promotores se dispõem para que seja instrumentalizada para a limitação do direito à greve».

Ou seja, não há nesta passagem qualquer acusação aos «grevistas» ou a sua genérica responsabilização. Se houvesse , não se teria usado o termo «instrumentalizando».

Tudo visto, Ana Sá Lopes é livre de  não lhe fazer a mínima impressão a duração «indeterminada» desta greve, é livre de nada dizer sobre o porta-voz que diz que a greve pode durar 10 anos, é até livre de ignorar as críticas do PCP à dimensão dos serviços mínimos e à requisição civil e até é livre de, numa matéria de enorme complexidade, ver tudo a preto e branco. O que não pode é pôr na boca de outros o que outros não pensaram nem disseram. 
E, afinal, é a ela própria que se aplicam estas suas palavras no mesmo editorial :  «a captura da razão em favor da explosão de emoções, delineada por quem tinha responsabilidades especiais, foi demasiado grave e marcará com certeza, para o bem e para o mal, um “antes” e um “depois”.


Adenda absolutamente
necessária (18.40 hs)

No editorial do Público a publicar amanhã na edição impressa, vai escrever  o director Manuel Carvalho :


(Público online hoje»
E, face a isto, eu limito-me a dizer que se aplica a Manuel Carvalho tudo quanto escrevi acima sobre o texto de Ana Sá Lopes : o mesmo maniqueísmo, a mesma visão de só preto e branco, a mesma desatenção ao que o PCP realmente escreveu, a mesma ignorância sobre elementares critérios na concepção das formas de luta a adoptar. Por agora, chega !