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02 abril 2013

Sobre uma frase de José Vítor Malheiros

Falar é bom e eu gosto mas...



Para que não haja confusões, lembro que já aqui expressei em diversas ocasiões a minha consideração e estima por José Vítor Malheiros e agora acrescento mesmo que ele, Manuel Loff e André Freire são praticamente as únicas vozes de esquerda nas colunas de opinião do Público, o que não é coisa despicienda. Entretanto, isso não me tem naturalmente impedido de formular reservas ao que por vezes escreve ou de lhe lançar desafios como aconteceu aqui (para ir aqui).

É o que hoje volto a fazer assinalando que, no seu texto no Público de hoje, a dado passo e como "alinea d)", integra na «comédia dos enganos da vida política nacional» o seguinte elemento de (sublinhados meus) «um PCP e um BE tão preocupados com a sua identidade que receiam transformar-se em estátuas de sal se fizerem uma frente comum contra o Governo e perderem a pilinha se falarem com o PS».

Ora, se eu ainda fosse dirigente do PCP e sobre isso obtivesse acordo dos meus camaradas, mandaria a seguinte carta a José Vítor Malheiros:

«Caro José Vítor Malheiros:

Tendo em conta uma passagem do seu artigo no Público de hoje, apresso-me a informá-lo de temos um diálogo muito frequente com dirigentes do PS, designadamente em sede de AR, e que ele abrange não apenas as matérias ou iniciativas ali em discussão (sendo públicas as diferenças de comportamento ou atitude dos dois partidos sobre elas) mas também as questões mais globais atinentes à perspectiva política.

E se não temos dado satisfação aos que mostram uma especial predilecção por encontros publicamente anunciados e objecto de cobertura pela comunicação social é precisamente porque, no estado actual das artes, isso seria trazer ainda mais fortemente para a opinião pública uma imagem de falta de entendimento e de graves divergências.

De qualquer forma, posso relatar-lhe que, usando por uma vez palavras de uma violência que não faz parte do nosso estilo e postura, a conclusão que temos tirado desses contactos é, para partir de um exemplo recente, que a ambiguidade deste papel de Sócrates, comentador-que-vai-ser-oposição-mas-sem-ser-oposição-, articula-se com a de Seguro, o-líder-da-oposição [?!!!]- que-não-se-opõe-a-nada, o opositor de triste figura, que se abstém violentamente, que só censura quando não tem saída, que repete banalidades com cara de menino mimado, que se queixa da austeridade mas promete vassalagem à troika, que quer unir a oposição mas tem medo do PCP e vergonha de falar com o BE, que diz que é de esquerda mas só namora a direita.

Certo de que compreenderá como, nestas circunstâncias, a «frente comum» está algo dificultada, receba as cordiais saudações do

Vítor Dias
»

E, pronto, agora só me falta acrescentar, sempre com simpatia e cordialidade, que toda a parte anteriormente sublinhada a castanho é da autoria de José Vítor Malheiros e consta do seu artigo de hoje no Público.

15 dezembro 2015

José Vítor Malheiros ou...

... as palavras e o seu contexto

Em artigo hoje no Público que examina o significado de José Pacheco Pereira se ter apressado a explicar que só aceitou o convite para Serralves por o seu cargo não ser remunerado, o prezado José Vítor Malheiros, escreve mias à frente o seguinte :«Tem aliás sido sintomático ver o PCP repetir à exaustão, à propósito do acordo com o PS ou da constituição do Conselho de Estado, que não está na política para conquistar cargos. Como se a conquista de determinados cargos políticos não estivesse no cerne do combate político, como se ela não fosse uma parte absolutamente legítima desse combate e não fosse essencial para a prossecução de determinadas políticas. A posição do PCP é respeitável e compreende-se que, ao fazê-lo, se dirige principalmente àqueles dos seus apoiantes menos afortunados que consideram que todos os políticos ganham fortunas. Mas o que acontece é que o PCP reforça assim, involuntariamente, a visão reaccionária popular segundo a qual a política é não a nobre dedicação ao bem comum que temos o direito de exigir que seja mas apenas uma carreira oportunista que pode ser mais rentável que todas as outras. E esta visão da política como algo desprezável e indigno alimenta a abstenção e mina a democracia.»

Se eu tivesse de fazer um comentário brevíssimo a estas linhas, eu escreveria apenas que «tanto barulho por nada!». Mas como J.V.Malheiros e os  leitores merecem mais, então explico que tal afirmação do PCP não pode ser separada do contexto político presente (no qual não poucos estranhavam a falta de ministros comunistas no governo como se isso fosse separável da natureza e limites dos acordos políticos alcançados).

Creio que, com um pouco mais de ponderação, teria sido possível ao estimado JVM compreender que com isso o que o PCP quis e quer dizer é que, para si, a natureza e orientação das políticas está sempre primeiro que a mera conquista de cargos.

E creio ser bom de ver que este é o real e autêntico sentido de tal declaração dos dirigentes do PCP, tanto mais quanto é sabido que o PCP, no quadro da CDU, tem numerosos militantes ou simpatizantes seus que exercem, há quase 40 anos, os cargos de Presidentes de Câmara ou vereadores municipais.

04 março 2013

Não, não deixo passar e não me calo

Alto e pára o baile !


Lendo posts em blogues e comentários de diverso tipo nos media sobre as manifestações há duas coisas, de muito diferente importância, que não posso deixar passar em claro e que me tiram do sério.


Uma, que é acessória, é a quantidade de coisas que uma série de pessoas consegue ver numa manifestações como a de Lisboa com imensas dezenas de milhares de pessoas, entre as quais destaco a que nos garante que esta era uma manifestação com gente mais velha quando eu, pela minha parte, podendo reconhecer que havia razões para uma maior participação de reformados, achei que a componente dominante era de gente jovem, em medida similar à de 15 de Setembro.

A outra, e esta sim é que é perigosa e sofisticada, é que depois de, no próprio sábado à noite, ter visto e ouvido  com desgosto Daniel Oliveira no "Eixo do Mal" a dizer praticamente o mesmo, ouvi hoje no noticiário das 12 hs. da TSF o politólogo Carlos Jalali a dizer que, para além da contestação às medidas e à política do governo, as manifestações também eram «contra o funcionamento do sistema político e aqui incluiria também os demais partidos da oposição».

Ora, sobre isto, quero apenas anotar o seguinte:

Se quem diz isto porventura o diz porque está a pensar na incerteza das futuras opções eleitorais dos que agora tão combativamente se manifestam, então impõe-se salientar que eu não conheço nenhuma pessoa responsável do PCP ou do BE que tenha arriscado previsões ou adivinhado facilidades sobre o complexo problema da transformação do descontentamento generalizado em novas e diferentes opções de voto.

Dito isto, impõe-se dizer que é ou uma velhacaria indigna ou uma patetice lamentável, a respeito de uma manifestação em que no centro das suas reclamações e reivindicações está a política do governo e desta vez até uma forte exigência da sua demissão, em que praticamente não há palavras de ordem ou cartazes que espelhem o que alguns comentadores e sociólogos e politólogos querem impingir-nos, em que críticas, indignações e aspirações que têm sido constantes nos discursos políticos do PCP e do BE se expressam de forma dominante sob fórmulas aproximadas ou mesmo coincidentes nas manifestações, vir depois dizer que o PCP e BE levam na tola tanto como o partidos do governo.

Uma explicação benévola para esta destrambelhada (mas não inocente no caso de alguns) operação ideológica e política pode estar em que os seus comandantes ou autores disponham de uma máquina que eu não tenho e que acho mal se já existir: aquela máquina que, por fios ou ondas hertzianas assegure a ligação de cada um destes comentadores e politólogos ao pensamento reservado de milhões de cidadãos e que lhes permite assim saber o que os cidadãos não dizem na praça pública.

Desculpem lá mas e se fossem
 dar uma volta ao bilhar grande ?


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Adenda em 5/3: Sem amalgamar posições, quero anotar que, no Público de hoje, o por mim muito estimado José Vítor Malheiros, referindo-se às manifestações de dia 2, salienta a certo passo que «nenhum partido, nenhuma coligação de partidos conseguiria reunir esta maré e, se houvesse partidos, eles desmobilizariam as pessoas». Sobre este ponto, parece-me adequado recordar que, salvo algumas promovidas nos anos mais recentes pelo PCP, desde 1976 até hoje as manifestações convocadas por partidos não têm qualquer tradição ou expressão significativa, pelo que, havendo certamente novidades, não é aqui que agora está uma. Mais adiante, J.V. Malheiros escreve que «perante uma grande manifestação unitária contra o Gverno e a austeridade, haverá uma plataforma mínima de entendimento que possa emergir entre os partidos que se reclamam da esquerda, em nome da emergência nacional ? Não, porque o PS é pró-troika. Bom, e só entre o PCP e o BE ? Também não, porque...». Sobre esta questão permito-me apenas remeter os leitores para os três últimos parágrafos, que, a respeito de outro autor, escrevi aqui. E termino estendendo a José Vítor Malheiros o convite que aqui, nos três últimos parágrafos, dirigi há dias ao Prof. André Freire.

15 junho 2013

Em boa hora

Carta de solidariedade pelo
povo grego,pela democracia e
contra o apagão do serviço
público de rádio e televisão na Grécia

(dirigida à Embaixada da Grécia)



A Grécia acordou no dia 12 de Junho sem televisão e radio públicas. No dia anterior, 11 de Junho, o governo impôs, com escassas horas de pré-aviso, o "apagão "da ERT (serviço de rádio e televisão grego), tornando-se a Grécia o único estado-membro da União Europeia a suspender o  serviço público de comunicação social, num claro atropelo da democracia. Semelhante decisão constitui uma inequívoca manifestação de autoritarismo, abrindo um estado de exceção que colide com princípios e normas europeias e ataca direitos fundamentais.
O serviço de televisão público é essencial para o povo grego, para a democracia na Grécia, para a democracia na Europa. Considerar aceitável esta situação é aceitar a premissa e a ameaça da chantagem antidemocrática sobre os meios de comunicação social e a liberdade de imprensa.

Os e as assinantes enviam por isso esta carta de repúdio pela decisão do governo grego e exigem o respeito pelos valores democráticos sustentados pelo serviço público de televisão e rádio. Só a democracia pode defender os povos europeus contra a austeridade e o autoritarismo.
Os/as abaixo-assinado
Alexandre Quintanilha (professor);Alberto Arons de Carvalho (professor universitário);
Alberto Costa (deputado);Alberto Martins (deputado);Alfredo Maia (jornalista, presidente do Sindicato dos Jornalistas);Ana Goulart (jornalista);Ana Maria Pessoa (professora);António Almeida Calheiros (assessor/docente universitário);António Pedro Vasconcelos (realizador);Boaventura de Sousa Santos (professor universitário);Carla Baptista (professora universitária);Camilo Azevedo (comissão de trabalhadores da RTP)

Catarina Martins (deputada);Cecília Honório (deputada);Conceição Matos Abrantes (reformada);Daniel Oliveira (jornalista);Diana Andringa (jornalista);Domingos Abrantes (reformado);Eduardo Ferro Rodrigues (deputado);Estrela Serrano, investigadora);Fernando Correia (jornalista, professor universitário, membro do Conselho de Opinião da RTP);Fernando Valdez (jornalista);Francisco Louçã (professor Universitário);Hélder Costa (dramaturgo e encenador, diretor do grupo de teatro A BARRACA);Helena Sousa Freitas (jornalista / bolseira de doutoramento);Inês de Medeiros (deputada e realizadora);Inês Quintanilha (licenciada em História);Jacinto Lucas Pires (escritor);Joana Lopes (doutorada em Filosofia);João Bau (investigador-coordenador);João Villalobos Filipe (militar de Abril);João Salaviza (realizador);Jorge Lacão (deputado);Jorge Sampaio (advogado);José Azeredo Lopes (professor universitário);José Barahona (Cineasta);José Rebelo (professor universitário);José Ribeiro e Castro (deputado);José Luiz Fernandes (jornalista);José Manuel Pureza (professor universitário);José Maneira (investigador);José Mário Branco (músico);José Maria Castro Caldas (economista);José Vera Jardim (jurista);José Vítor Malheiros (consultor e colunista);Lídia Fernandes (bolseira de investigação);Luís Fazenda (deputado);Luís Humberto Teixeira (tradutor);Luísa Teotónio Pereira (técnica de desenvolvimento);Manuel Carvalho da Silva (investigador);Manuel Macaísta Malheiros (jurista);Manuel Maria Carrilho (professor universitário);Manuel Mozos (realizador);Margarida Maria Martins da Graça (professora);Maria Augusta Babo (professora universitária);Maria de Lurdes Afonso Lopes (médica);Maria Susete Abreu (gestora);Mário Pimenta (professor universitário);Mário Tomé (militar de Abril);Miguel Cardina (historiador);Natal Vaz (jornalista);Nuno Ramos de Almeida (jornalista);Orlando César (jornalista e presidente do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas);
Oscar Mascarenhas (jornalista);Pedro Delgado Alves (professor Universitário);Pedro Diniz de Sousa (investigador);Pedro Rodrigues (produtor cultural);Pedro Sousa Pereira (membro da comissão de trabalhadores da Agência Lusa);Ramiro António Soares Rodrigues (militar reformado);Ricardo Alves (professor);Rita Veloso (assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa);Ruben de Carvalho (jornalista);
Rui Nunes (membro da comissão de trabalhadores da Agência Lusa);Sandra Monteiro (jornalista);Sérgio Sousa Pinto (deputado);Sofia Andringa (investigadora);Tiago Ivo Cruz

Vasco Lourenço (militar de Abril);Vítor Dias (reformado)

03 fevereiro 2015

Flecte, flecte, insiste, insiste

Não, não me vencem pelo cansaço


Em artigo hoje no Público, José Vítor Malheiros (que é apoiante deste projecto com muitas outras pessoas que igualmente considero e estimo) arranca assim (sublinhado meu):«O movimento Tempo de Avançar, cuja convenção fundadora teve lugar este fim-de-semana em Lisboa (e do qual sou apoiante), merece alguma reflexão, não apenas por se tratar de um movimento de cidadãos que pretende constituir uma plataforma eleitoral que se irá apresentar às próximas eleições legislativas, nem por se apresentar como um movimento de esquerda que, sem abdicar da indignação e do protesto, coloca como questão identitária a sua vontade de contribuir para uma governação à esquerda(...) ».

E, lá mais para a frente, escreve que «Acontece porém que, no sector a que classicamente chamamos esquerda, encontramos um partido como o PS, onde se confundem ideologias e práticas de direita (política económica neoliberal) e de esquerda (defesa de algumas bandeiras do Estado social) numa amálgama difícil de classificar, e partidos como o Bloco de Esquerda e o PCP, que consideram que qualquer negociação com o PS é inútil e que qualquer cooperação com este no campo governativo poria em causa de forma fatal a sua pureza ideológica.»

E, relatado isto, só venho lembrar que por causa do estimado José Vítor Malheiros e de outras afirmações semelhantes eu já

Escrevi em
18 de Novembro de 2014



ler o resto aqui
ver também aqui (em 2013)

18 novembro 2014

Vejam lá se me compreendem

Se outros se repetem sem cessar,
das duas uma: ou vou dar pão aos
pombos ou repito-me também !



Numa notícia no Público de hoje, pode ler-se o seguinte (sublinhado meu) : «Há quem veja o governo como um fim em si mesmo e quem veja o governo como um tabu a evitar». Foi a forma que [Rui] Tavares encontrou para revelar como olhava para o PS, por um lado, o PCP e o BE por outro».

Também no Público o por mim estimado José Vítor Malheiros, depois de umas bicadas equitativas ao CDS e PSD, ao PS e ao BE, acrescenta que «ninguém sabe se o PCP gostaria de participar no governo do país».

Estou farto e cansado de abordar este assunto e de combater estas formas de dizer e de pensar, não podendo deixar de lembrar que, em conexão com este tema, ainda continuo à espera que alguém dê finalmente o passo de responder a este meu repetidíssimo desafio.

Mesmo assim, porque hoje não quero infringir a postura municipal que proíbe a alimentação dos pombos, volto a insistir em termos breves :

1. Do 25 de Abril até hoje (para não ir mais atrás), sob diversas fórmulas ou com nuances temporais, nunca o PCP deixou de se referir à necessidade de «unidade» ou «convergência» das forças democráticas ( e em 1976 até fez campanha para a AR sob o slogan «por uma maioria de esquerda»). E, a este respeito, é bom lembrar duas coisas: a primeira é que, entre a revisão constitucional de 82 e a chegada de Jorge Sampaio a líder do PS, a direcção do PS esteve de relações cortadas com a direcção do PCP, recusando sempre qualquer encontro ainda que sem condições prévias ou ordem de trabalhos; a segunda é que, durante várias décadas, estas insistentes referências do PCP à  «unidade» ou «convergência» eram vistas e tratadas por outras forças políticas e pelos media como sendo parte integrante da insuportável «cassete»comunista.

2.aqui publiquei extractos de recentes  Programas Eleitorais do PCP que desmentem categoricamente que que a questão do governo seja um tabu para o PCP ou que este esteja acantonado em qualquer indisponibilidade para governar ou discutir soluções de governo). E já que muitos parecem não saber, lembro que, logo a seguir à queda do 1º governo de Mário Soares, se realizaram conversações públicas entre o PCP e o PS para precisamente discutir a política e uma solução de governo, o que, só por si, mostra que há um certo exagero sobre as chamadas «feridas de 1975»

3. Devia meter-se pelos a dentro que a questão não está nem nunca esteve na disponibilidade para governar ou considerar soluções de governo mas sim no «governar para quê», ou seja «governar com que política».

4. Ponto que sempre considero muito curioso (ou misterioso) é que que quase todas as pessoas que escrevem coisas como estas de Rui Tavares e José Vítor Malheiros. em certas conjunturas ou sobre certos assuntos, já disseram sobre o PS coisas bem mais cruéis e devastadoras do que eu.

E, tudo visto, como em pequenino caí no caldeirão da generosidade, só me resta adiantar uma explicação benévola para as opiniões que aqui referi: é que estas pessoas são ou devem ser muito novas e devem julgar  que o problema da alternativa política em Portugal,se não começou ontem, terá então começado anteontem.

19 novembro 2013

«Unidade de esquerda», «plataformas mínimas» and so on

Sempre soube que
andava a escrever na água




Em artigo no Público de hoje, José Vítor Malheiros escreve a certo passo (sublinhados meus): «O que é que isto tem que ver com o Livre ? O partido que agora se anuncia  surge como resultado de um movimento social cuja principal bandeira é a unidade da esquerda - o documento que está na sua origem é o Manifesto para uma Esquerda Livre, do qual sou, aliás, subscritor .- e essa reivindicação é defendida por um número crescente de cidadãos. O facto é que existe nos partidos da esquerda uma atitude sectária que é prejudicial às ideias de esquerda, à unidade da esquerda e à imagem da esquerda».

Ora, quer a respeito do "Manifesto para uma Esquerda Livre" quer a respeito do persistente olimpismo que se dedica com notável persistência a amalgamar as responsabilidades do PS, do PCP e do BE, remeto os leitores para os seguintes e antigos posts meus que nunca tiveram a honra de receber qualquer resposta minimamente articulada.



E como tanto José Vítor Malheiros como o meu amigo Paulo Granjo aqui vêm defender a, quanto a mim errónea e perigosa, ideia de uma «plataforma mínima de entendimento» entre os partidos de esquerda, informo que tratei desse assunto aí:



Por fim, e para acabar o relambório,
só lembrar aos leitores que há meses
 que espero sentado que alguém responda
 a este meu velho e elementar desafio:

12 novembro 2013

José Vítor Malheiros no «Público» ou...

... assino por baixo



«(...) Usar a expressão «arco da governabilidade» para representar a tríade PS-PSD-CDS é equivalente a proclamar um direito natural  destes partidos a governar e a proclamar a não-naturalidade da participação de outros partidos no governo (...). A colagem de epítetos aos partidos sempre fez parte do debate político, com o intuito de criar divisões ou forçar alianças, de promover ou atacar esta ou aquela força. O que é novo e surpreendente é o facto de expressões deste tipo, politicamente marcadas, criadas para ser usadas no combate político, carregadas de uma intenção de segregação de uma parte do espectro político, serem usadas por pivots de telejornais, por jornalistas e comentadores e jornais, por académicos e responsáveis políticos mesmo quando possuem um dever de neutralidade e mesmo quando pensam estar a ser equidistantes. (...) A imposição do léxico da direita no discurso mediático é a maior vitória que essas forças poderiam almejar. Mas estão a consegui-lo. Utilizar o discurso do governo para fazer notícias não é fazer notícias, mas sim fazer propaganda. Se o jornalista o faz conscientemente, comete uma falha ética grave. Se não o faz intencionalmente, faltam-lhe competências técnicas básicas para fazer jornalismo».


- José Vítor Malheiros, hoje no Público (sem link), em artigo intitulado «Quando o discurso jornalístico reproduz a propaganda».

23 fevereiro 2021

Uma carta aberta

 Uma iniciativa
muito oportuna

«Sabemos que há uma pandemia – e que o SARS-CoV-2, em vez de se deixar ficar a dizimar pessoas no chamado Terceiro Mundo, resolveu ser mais igualitário e fazer pesadas baixas em países menos habituados a essas crises sanitárias.

Sabemos que não há poções mágicas – as vacinas não se fazem à velocidade desejada e as farmacêuticas são poderosas entidades mercantis.

Sabemos que, mesmo cumprindo os cuidados tantas vezes repetidos – distância física, máscara a tapar boca e nariz, lavagem insistente das mãos, confinamento máximo –, qualquer um de nós, ou um dos nossos familiares e amigos, pode ser vítima da doença e que isso causa medo a todos, incluindo a jornalistas, fazedores de opinião e responsáveis de órgãos de informação.

Sabemos também que os média estão em crise, que sofrem a ameaça das redes sociais, a competição por audiências, as redações desfalcadas, os ritmos de trabalho acelerados impostos aos que nelas restam, a precariedade laboral de muitos jornalistas.

Mas mesmo sabendo tudo isto, assinalamos a excessiva duração dos telejornais, contraproducente em termos informativos. Não aceitamos o tom agressivo, quase inquisitorial, usado em algumas entrevistas, condicionando o pensamento e a respostas dos entrevistados. Não aceitamos a obsessão opinativa, destinada a condicionar a receção da notícia, em detrimento de uma saudável preocupação pedagógica de informar. E não podemos admitir o estilo acusatório com que vários jornalistas se insurgem contra governantes, cientistas e até o infatigável pessoal de saúde por, alegadamente, não terem sabido prever o imprevisível – doenças desconhecidas, mutações virais – nem antever medidas definitivas, soluções que nos permitissem, a nós, felizes desconhecedores das agruras do método científico, sair à rua sem máscara e sem medo, perspetivar o futuro.

Mesmo sabendo a importância da informação sobre a pandemia, não podemos aceitar o apontar incessante de culpados, os libelos acusatórios contra responsáveis do Governo e da DGS, as pseudonotícias (que só contribuem para lançar o pânico) sobre o “caos” nos hospitais, a “catástrofe”, a “rutura” sempre anunciada, com a hipotética “escolha entre quem vive e quem morre”, a sistemática invasão dos espaços hospitalares, incluindo enfermarias, a falta de respeito pela privacidade dos doentes, a ladainha dos números de infetados e mortos que acaba por os banalizar, o tempo de antena dado a falsos especialistas, as entrevistas feitas a pessoas que nada sabem do assunto, as imagens, repetidas até à náusea, de agulhas a serem espetadas em braços, ventiladores, filas de ambulâncias, médicos, enfermeiros e auxiliares em corredores e salas de hospitais. Para não falar das mesmas imagens repetidas constantemente ao longo dos telejornais do mesmo dia ou até de vários dias, ou da omnipresença de representantes das mesmas corporações profissionais, mais interessados em promoção pessoal do que em pedagogia da pandemia.

Enfim, sabemos que há uma pandemia causada pelo SARS-CoV-2, mas também sabemos que há uma diferença entre informação, especulação e espetáculo. E entre bom e mau jornalismo.

Consideramos inaceitável a agenda política dos diversos canais televisivos generalistas, sobretudo no Serviço Público de Televisão.

Como cidadãs e cidadãos, exigimos uma informação que respeite princípios éticos, sobriedade e contenção. E, sobretudo, que respeite a democracia.

Subscritores

Abílio Hernandez, Professor universitário; Alberto Melo, Dirigente associativo; Alfredo Caldeira, Jurista; Alice Vieira, Escritora; Ana Benavente, Professora universitária; Ana Maria Pereirinha, Tradutora; António Rodrigues, Médico; António Teodoro, Professor universitário; Avelino Rodrigues, Jornalista; Bárbara Bulhosa, Editora; Diana Andringa, Jornalista; Eduardo Paz Ferreira, Professor universitário; Elísio Estanque, Professor universitário; Fernando Mora Ramos, Encenador; Graça Aníbal, Professora; Graça Castanheira, Realizadora; Helder Mateus da Costa, Encenador; Helena Cabeçadas, Antropóloga; Helena Pato, Professora; Isabel do Carmo, Médica; J.-M. Nobre-Correia, Professor universitário; Jorge Silva Melo, Encenador; José Rebelo, Professor universitário; José Reis, Professor universitário; José Vítor Malheiros, Consultor de Comunicação de Ciência; Luís Farinha, Investigador; Luís Januário, Médico; Manuel Carvalho da Silva, Sociólogo; Manuela Vieira da Silva, Médica; Maria do Rosário Gama, Professora; Maria Emília Brederode Santos, Pedagoga; Maria Manuel Viana, Escritora; Maria Teresa Horta, Escritora; Mário de Carvalho, Escritor; Paula Coutinho, Médica intensivista; Pedro Campiche, Artista multidisciplinar; Rita Rato, Directora do Museu do Aljube; Rui Bebiano, Professor universitário; Rui Pato, Médico; São José Lapa, Actriz; Tiago Rodrigues, Encenador; Vasco Lourenço, Capitão de Abril

Os autores escrevem segundo o novo acor

09 setembro 2014

Adivinhem o quê

Isto e o corpo dorido fizeram-me
lembrar qualquer coisa





No Público de hoje, José Vítor Malheiros assina um interessante artigo a propósito do video acima respeitante à construção (em 10 horas!), na base de trabalho voluntário, de um grande celeiro por uma comunidade amish nos EUA.
Do artigo, destaco as seguintes passagens:

«(...) Não tenho nenhuma simpatia particular por estas comunidades religiosas, cujas crenças respeito, mas não é possível ver este celeiro a subir no céu sem sentir uma enorme vontade de estar lá, de ajudar a levantar aquelas vigas, de cravar aquelas traves, de pregar aquelas tábuas, de assentar aquele telhado e de, no fim, levantar os olhos para admirar a construção que nos saiu das mãos. Ou sem pensar se não haverá por aqui, ao pé de casa, num sítio qualquer, um celeiro que possamos ajudar a construir com as nossas mãos, ou uma escola, ou um jardim, ou outra coisa qualquer que possamos ver erguer-se diante dos nossos olhos, com a ajuda de outras pessoas como nós, que saibamos para quê e para quem vai servir e que saibamos que vai ser útil.
O trabalho moderno foi-nos afastando da matéria física de tal maneira, foi-nos alienando de tal forma da finalidade última do próprio trabalho, foi-nos especializando em detalhes de tal forma microscópicos que perdemos de vista o seu verdadeiro fim e não podemos deixar de olhar imagens como estas com nostalgia. Quantas pessoas sentem que o seu trabalho tem tanto sentido como a construção deste celeiro? (...)».

26 janeiro 2016

A fronda do costume

Ajoelho perante
inteligências tão superiores



publicado na edição impressa de ontem

Sobre este despacho, aqui ficam três observações:

1. Fico a aguardar ansiosamente que Ana Sá Lopes, em relação pelo menos aos últimos 20 anos (por causa da idade dela), exiba qualquer declaração do PCP em que, tendo perdido numas eleições, tenha vindo afirmar que tinha ganho.

2. Embora a expressão tenha hoje um uso generalizado, não posso deixar de registar que a ideia de «erro de casting» é muito ajustada para quem tem da política uma concepção de espectáculo.

3.
 É verdadeiramente extraordinária a ideia de que o PCP teria feito melhor em desistir a favor de Sampaio da Nóvoa. É que, para além dos legítimos interesses próprios do PCP, haveria de dar um belo resultado Sampaio da Nóvoa  ser apresentado nos últimos dias de campanha como tendo como único apoio partidário significativo o PCP.

4. Muitos que acusam Edgar Silva  de ter tido um discurso repetitivo e «chapa» PCP dizem-no porque o preconceito lhes tolda a vista e entope os ouvidos e, por isso, nem repararam que Edgar Silva até trouxe para a campanha um discurso com formas de dizer e construções orais marcadamente pessoais e singulares.

5. A propósito da chamada «cassete do PCP» volto a repetir um desafio : é que, se algum jornal me pagar 250 euros por cada texto e me der duas horas para escrever cada um, eu garanto que escrevo três páginas imitando o discurso típico e «repetitivo» de qualquer um dos principais candidatos presidenciais.

P.S. : Há coisas que alguns só conseguem escrever porque o resultado de Edgar Silva foi o que foi e que não escreveriam se tivesse tido 7 ou 8%. É o caso do estimado José Vítor Malheiros hoje no «Público», quando escreve  que «o demérito pode ser atribuído ao candidato [Edgar Silva]  (...) mas não pode deixar de ser atribuído ao discurso de protesto que a campanha escolheu, com o PCP a sublinhar os seus aspectos identitários e a demarcar-se de tudo e de todos (nomeadamente do do Governo do PS) [????!!!] em vez de associar à possibilidade de construção de uma política comum de esquerda». Na verdade, revejo mentalmente todos os debates e todos os extractos de discursos nos telejornais e não descubro nada disto sobre Edgar Silva assim como não vejo qual foi a substancial diferença, nos pontos mais importantes, marcada por Marisa Matias.


19 março 2013

De verdade, já cansa

Planando olimpicamente
sobre um ninho de divergências



Como os leitores mais atentos terão reparado, vezes sem conta me tenho distanciado (melhor dizendo, tenho criticado) das muitas vozes que, de forma insistente mas sem contra-argumentar, movidas por preocupações e aspirações de cuja autenticidade e generosidade não quero duvidar, lançam apelos genéricos a uma «unidade» entre PS, PCP e BE para uma alternativa ao actual governo e à sua política, sempre fugindo nessas ocasiões a definirem qual é o seu posicionamento pessoal perante as conhecidas divergências e diferenças de orientação política que existem entre, grosso modo, de um lado, o PS e, do outro, o PCP e o BE.

Só para citar dois textos mais recentes, ainda no inicio deste mês, ou seja aqui em 1/3 e  aqui em 4/3, dirigi respectivamente ao Prof. André Freire e a José Vítor Malheiros um convite para que suprissem a lacuna que refiro no final do parágrafo anterior.

De passagem, devo entretanto referir que estas posições me gelam tanto mais os ossos quanto, puxando pela memória, encontro em algumas destas pessoas uma razoável coincidência entre as críticas que eu próprio tenho formulado em relação a opções estruturantes ou atitudes importantes do PS e as que eles também têm formulado.

Agora, sem novidade porque há muito que surfa esta onda, leio aqui este naco de prosa de Daniel Oliveira:


Face a isto, está na hora de estender o convite acima já  referido a Daniel Oliveira. Quanto mais não fosse pela sua profissão de comentador político, Daniel Oliveira tem todas as condições para reconstituir com detalhe e rigor quase todos os importantes temas, problemas, opções, questões e votações em que PCP e BE se diferenciaram do PS ou vice-versa. Por isso, aqui lhe apelo a que tenha a coragem clarificadora de nos contar a todos em quais é que concordou ou se sentiu mais próximo das posições assumidas pelo PCP e pelo BE e em quais é concordou ou se sentiu mais próximo das adoptadas pelo PS.

Por fim, também pela enésima vez, aqui venho espadeirar contra a sua insistente aplicação ao substantivo «alternativa» do adjectivo «credível» (que já tive ocasião de considerar absolutamente envenenado). De facto, nunca vejo estas pessoas explicarem o que significa neste âmbito o «credível». «Credível» como, aos olhos de quem e segundo que critérios ? É que, por certos padrões, as alternativas propostas pelo PCP ou pelo BE, a muitos olhos, nunca serão «credíveis» não por causa da real natureza das propostas mas pela noção de que sózinhos não chegam lá. Se fôr isso que estejam a pensar, os utilizadores do «credível» passem antes a trocar as coisas por miúdos e substituam esse adjectivo por «moderada» ou mesmo «muito moderada» que é a forma delicada de dizer que não devem pôr em causa as grandes opções e orientações até aqui seguidas pelo PS.

Estou francamente cansado de pregar no deserto. Se, como é provável, a avaliar pela experiência anterior, estes meus pacatos desafios continuarem a cair em saco roto, não voltarei a escrever nada de novo sobre o assunto, apenas, de cada vez que houver razão para isso,  republicarei este post até cansar o juízo de toda a gente.

16 maio 2012

Ainda o «Manifesto para uma Esquerda Livre»

Um péssimo ponto de partida




Ao ler a lista das pessoas que já subscreveram o «Manifesto para Uma Esquerda Livre», várias das quais aliás minhas amigas, sinto a necessidade de, depois deste breve comentário, voltar ao assunto. Assim:



Começo por formular o voto de que os autores e subscritores do Manifesto interiorizem e exteriorizem bem a ideia de quem assina manifestos públicos com este conteúdo e formulações, perante os comentários críticos que este receba, ultrapassem a tendência que há em todos nós para o melindre, a susceptibilidade e a irritação. E que tenham o «fair-play» de perceber que se podem escrever indirectamente que eu pertenço a uma esquerda da «inconsequência» então eu também tenho direito de lhes responder pelo menos com palavras tão directas e fortes como as que usaram.

Para o caso de poder haver dúvidas, esclareço que nada do que eu escreva sobre o citado Manifesto colide com a minha convicção de que, na sua imensa maioria, os seus subscritores são cidadãos em regra movidos por preocupações respeitáveis e intenções generosas e que se deve contar com a sua contribuição na complexa, árdua e muito difícil (não sei é se todos terão consciência da justeza destes adjectivos) luta pela   consolidação de uma política alternativa e construção de uma alternativa política à esquerda.

Devo agora acrescentar que o meu ponto não está nas iniciativas que tencionam anunciar ou nas propostas sobre os problemas nacionais que venham a apresentar mas sim, e para já exclusivamente, no teor do Manifesto que apresentaram e no que ele revela sobre os caboucos doutrinais ou conceptuais desta iniciativa política. Simplificando, creio que em boa verdade este conjunto de cidadãos podia ter escrito ou assinado um manifesto que simplesmente anunciasse um desejo de participação cidadã em torno de diversas causas ou temas ou como contribuição para fortalecer o movimento de luta, intervenção e de proposta já existente. Mas não foi isso que aconteceu pois os autores do Manifesto escolheram para matriz fundacional deste seu projecto um espécie de forçada terraplanagem do que já existe e se move à esquerda (releia-se aqui uma recente afirmação de um dos autores do Manifesto), ideia que percorre todo o manifesto, desde logo a começar o título que comporta a ideia de que há uma «esquerda» que não é livre. E, neste quadro, no Manifesto tudo valeu: desde a amálgama absurda e nada séria que  o «esquerda» no singular induz até à ideia de que até hoje ainda ninguém à esquerda apresentou «alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise» passando por um tacticismo que leva a furtar, com infinita caridade, o PS às suas enormes responsabilidades. Ironia da história é que quem tanto diferente do que há quer ser, tirando isto, quase tudo o que escreve no Manifesto  de natureza vagamente programática parece escolarmente copiado dos discursos do PCP, do BE e de algumas personalidades do PS. Os autores deste Manifesto até podem vir a querer que os seus termos concretos sejam rapidamente esquecidos e até podem desejar pôr rapidamente a tónica principal na mobilização de cidadania ou nas iniciativas que almejam promover. Mas, desculpem lá, o Manifesto existe, por alguma razão foi escrito da maneira que foi e ninguém se pode queixar que olhares e pensamentos exteriores à iniciativa o vejam como uma espécie de papel de tournesol.


Chamando sempre a atenção para o texto sublinhado no início ponto anterior, devo agora acrescentar que não me causa admiração que tantas e por vezes tão ilustres personalidades possam ter subscrito um Manifesto com semelhante conteúdo e formulações. Bem pelo contrário considero que essa atitude, que não reputo de sinal positivo e de que já havia indícios anteriores, é um sintoma dos conturbados e interpelantes tempos que vivemos e revela um entrecruzamento das sequelas da crise em curso com processos de alterações nos sistemas de valores, referências ou afinidades político-ideológicas. Embora isso esteja longe de esgotar a questão, o que acontece é que, em geral, os signatários de um Manifesto com este teor ou são membros ou simpatizantes de um partido à esquerda da direita e estão descontentes com a sua orientação actual ou são independentes que, em rigor, não se reconhecem ou sentem representados pelo PS, pelo PCP e pelo BE e que, em diversos momentos e situações, são muito cativáveis para ou sensíveis a apelos genéricos a uma «unidade das esquerdas» (incluindo o PS) que saltam por cima de muita coisa, ou seja e sem ofensa, assentam numa espécie de amnésia e perdões de conveniência que creio ser fruto de uma grande dificuldade intelectual e política em lidar com a complexidade, incerteza e aspereza que,  a meu ver marca a questão da alternativa de esquerda em Portugal. 

Nestas circunstâncias, se é essa a sua atitude ou sentimento, para além da sua sempre bem-vinda intervenção em causas e lutas de diversa natureza, creio honestamente que o caminho coerente que devem percorrer é ou lutarem democraticamente dentro dos seus partidos pela correcção das suas orientações ou, se mantêm a assumida diferenciação com as esquerdas que há e que está bem expressa no Manifesto, no caso de serem independentes deitarem mãos  à obra da construção de forças políticas isentas dos defeitos ou erros das já existentes o que introduz apenas o «pequeno problema» de conseguirem um mínimo de agregação político-ideológica.

Por fim, só dizer que, sem dúvida que, por todas as razões e mais algumas, precisamos em Portugal da mais vasta agregação e convergência à esquerda de múltiplas e diversificadas  contribuições, patrimónios e capacidades de luta e de proposta. Mas, dizendo isto, tenho também de dizer, por dever de sinceridade e de lealdade, que o texto do Manifesto, desejava que fosse por infelicidade momentânea, em nada serve esta necessidade e aspiração.

Adenda em 17/5:
Relativamente á apresentação pública hoje ocorrida do «Manifesto», refere o Público online:
(...)
Depois do que já escrevi sobre o assunto (até aqui sem resposta digna de nota) só quero acrescentar agora:

- quanto à afirmação do estimado José Vítor Malheiros, só quero recomendar que antes de começarem a obrigar os partidos «a tomar posição», pelo menos quanto ao PCP, talvez convenha consultarem o seu sítio não vá dar-se o caso de o interpelarem sobre coisas sobre as quais está farto de se pronunciar;

- quanto à afirmação de Rui Tavares de que «dentro dos partidos não há democracia», só quero lembrar-lhe a evidência facilmente demonstrável de que, quanto mais informal ou inorgânico for um movimento, menos democracia e prestação de contas há nele e mais os verdadeiros poderes de decisão estão concentrados num vúcleo muito restrito de pessoas.

Dito isto, agora vou ali à ervanária para ver se também há chá contra a arrogância porque tenho umas prendas dessas para dar.