12 dezembro 2014

Glórias do jornalismo português

Um truque que eu conheço bem

O «Público» dedicou ontem este título e uma página inteira a este «assunto» (como se verá, um não assunto»), apesar de citar largas e concludentes passagens do comunicado do PCP que a seguir se publica e que têm um valor mil vezes superior ao papelucho ou apontamento que alegadamente  terá sido encontrado no BES.



É evidente que, contactado pelo jornal, o PCP fez muito bem em produzir este cabal desmentido que, entretanto, não influenciou a redacção do título da notícia.


Trata-se de um truque que eu conheço bem e que talvez valha a pena contar. Na verdade, acontece que, enquanto responsável do Gabinete de Imprensa, de tempos a tempos, era contactado por algum jornalista, seguindo-se algumas vezes um diálogo mais ou menos nestes termos:


- Jornalista: Vítor Dias, o nosso jornal tem a informação de que o dr. Álvaro Cunhal foi internado de urgência no Hospital de Santa Maria, pode-nos confirmar essa informação ?

- Eu: Olhe, o que lhe posso confirmar é que acabei de ver o meu camarada Álvaro Cunhal aqui na SPG há meia hora e pareceu-me perfeitamente bem.

- Jornalista: Está bem, obrigado, vamos publicar a notícia acompanhada do seu desmentido.

- Eu: Desculpe, mas não vai não, isso seria o pôr o meu desmentido a servir de protecção para a divulgação de um rumor ou boato sem qualquer fundamento. Se lhe estou a dar a minha palavra de honra de que isso é falso, publicar o rumor é estar a duvidar da minha palavra. Não está portanto autorizado a publicar o meu desmentido. Se não consegue resistir à tentação, então publique apenas o boato que nós de seguida desmentimos mas acrescentando que o jornalista foi previa e solenemente avisado de que a notícia era falsa.


4 comentários:

  1. É uma escola de asseio jornalístico iniciada com São José Almeida, esse farol deontólogico e da ética que até já ensinada a fazer o contraditório foi uma vez ensinada por um .provedor do leitor do Público

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  2. O PCP pede empréstimos e negoceia serviços, com bancos privados como o BES.

    A Caixa Geral de Depósitos não seria a escolha mais lógica, afinal andam a defender a banca pública, mas depois só recorrem aos privados

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    1. A lei obriga a recorrer à banca e o PCP varia os bancos para não meter tuido no mesmo pote (como se a CGD se movesse por algum critério de banca pública como ela deve ser) mas esta pergunta ou é o cúmulo da estupidez crédula ou da hipocrisia:

      Sim, e os tipos do PCP só podem vestir roupa artesanal e comer comida produzida biologicamente em cooperativas e andar de carroça ou cavalo, que o combustível está nas mãos de multinacionais e em vez de lutar por um mundo e um país melhor, o PCP gastaria energia a tentar viver numa espécie de comuna hippie num mundo construído para que isso seja impossível.

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  3. Com o mal feito, fazia bem o PCP em enviar o comunciado a este director-adjunto: www.ionline.pt/iopiniao/quem-precisou-salgado-mudar-os-pneus-carro

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